Calendário de Vacinas

12/07/2018

Sarampo

Nos últimos dias, um assunto preocupante vem tomando conta dos noticiários em geral: o retorno da circulação do sarampo no Brasil.

Embora possa parecer contraditório, o retorno desta doença é – em grande parte – reflexo do sucesso da vacinação contra ela mesma.

Explico.

O sucesso da vacinação mantida em altas taxas de cobertura fez com que as novas gerações -aqui incluídos a população leiga e os profissionais da área de saúde – não conhecessem o sarampo, assim como a rubéola, a poliomielite, o tétano, a difteria, a coqueluche…dentre tantas.

Assim, formou-se uma geração de pessoas que não conhecem o triste passado não tão longínquo e acham que tais doenças são “doenças simples” ou, como muitos dizem, “da infância”, e se deixam relaxar, não se vacinando, nem seus filhos. E o que ocorre a partir de então?

Forma-se uma população importante de pessoas que não tem imunidade alguma contra estas doenças e, basta a introdução destes agentes novamente no país, para que elas retornem em níveis alarmantes. Num mundo globalizado, onde as viagens internacionais são cada vez mais freqüentes, e com países vizinhos em alarmantes crises econômicas – como o caso da Venezuela – forma-se um ambiente propício (e perigosíssimo) para o retorno destas doenças. Aqui um breve comentário acerca dessas doenças, que poderiam ser facilimamente evitadas caso a vacinação fosse levada a sério por todos.

Sarampo – doença viral altamente contagiosa, de transmissão aérea, caracterizada por febre alta, manchas no corpo, tosse, conjuntivite e que frequentemente complica com pneumonia pelo próprio vírus e/ou por infecção bacteriana secundária – a maior causa de morte no sarampo. O vírus também pode acometer o sistema nervoso central causando encefalite em cerca de 1 caso para cada 1000 infectados. Após a infecção da fase aguda, o sarampo mantém seus efeitos, causando importante imunodepressão (baixa imunidade) e levando o indivíduo a infecções como otites, pneumonias, diarreias.

Rubéola – doença viral também contagiosa, de transmissão aérea, caracterizada por febre (não tão elevada), manchas no corpo, gânglios e dores articulares. A doença em si não costuma causar complicações. No entanto, o cenário muda completamente quando a rubéola atinge mulheres grávidas, quando pode levar a abortos e  importantes malformações no bebê em cerca de 30% das mães infectadas. Dentre elas: cegueira, catarata, glaucoma, surdez, microcefalia, malformações cardíacas dentre outras.

Tétano – doença bacteriana que é inoculada no organismo (geralmente por ferimentos), causada pela toxina da bactéria Clostridium tetani, de gravidade extrema em qualquer faixa etária, ,mas sobretudo quando atinge bebês de mães não-vacinadas (o chamado tétano neonatal). O tétano provoca enrijecimento da musculatura, podendo evoluir com espasmos (contraturas musculares generalizadas semelhantes a convulsões), dolorosas, insuficiência respiratória, insuficiência renal, fratura de ossos pelas violentas contraturas, arritmias cardíacas e graves alterações da pressão arterial. O pior de tudo: a pessoa permanece consciente durante toda a doença. O seu tratamento é feito em ambiente de UTI e leva a óbito com muita facilidade.

Difteria – doença bacteriana de transmissão aérea de gravidade extrema altamente letal, causada pela toxina da bactéria Corynebacterium diphtheriae, que ocasiona febre, dor de garganta, placas esbranquiçadas na garganta, aumento do volume dos gânglios cervicais, importante queda do estado geral. Pode ocorrer a morte por obstrução mecânica das vias aéreas pelas placas, como por inflamação cardíaca (miocardite) e complicações como paralisias (devido à intoxicação de nervos) e renais que podem se estender por meses após a fase aguda.

Coqueluche – doença bacteriana de transmissão aérea que causa acessos de tosse e é especialmente grave e letal em menores de 1 ano, quando pode evoluir com complicações como pneumonia e encefalopatia que pode levar a convulsões e coma

Poliomielite – talvez a mais emblemática das doenças preveníveis por vacinação. Doença gravíssima, de transmissão fecal-oral (o vírus é eliminado nas fezes e ingerido por outras pessoas), cuja principal manifestação é a inflamação da medula espinhal. Pode atingir níveis mais altos, chegando até o bulbo – importante parte do sistema nervoso central que , dentre diversas funções, controla a respiração – causando insuficiência respiratória e morte e pode inflamar os mais diversos segmentos da medula espinhal, sendo bastante conhecidas as sequelas em sobreviventes que ficam, geralmente, com um ou os dois membros inferiores paralisados.

O retorno do sarampo é um alerta de que a vacinação jamais deve ser negligenciada pois as doenças não deixam de existir, simplesmente são controladas. É importante se manter TODAS as vacinas atualizadas em todos os indivíduos. As doenças que são consideradas erroneamente “da infância” costumam ter manifestação muito mais grave nos adultos.

Gostaria muito que todas as doenças acima descritas ficassem somente nos estudos dos livros e que ninguém as conhecesse pessoalmente ou na própria pele. Mas, para tanto, é preciso que cada um se conscientize e não deixe de se vacinar.  A vacinação maciça é o meio mais barato, simples e eficaz de proteger a si e a toda comunidade. Procure um posto ou uma clínica. Injustificável é não fazê-lo e depois se arrepender de maneira mais cruel.

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